sábado, 28 de novembro de 2009

Crônica: Alunos e Melancias

"Última aula da disciplina de Laboratório de Programação III (2009): final de mais um intenso período letivo. Tema típico? Fácil: revisão da matéria." --- pensei.

Subindo as escadas em direção ao lab, já encontro os alunos, curiosamente animados para a aula!? Nem desconfiei. É sempre muito bom encontrar alunos ansiosos por mais uma aula, nem que seja aquela famosa aula de revisão de matéria.

Abri a porta do lab, entrei: pasta de um lado, projetor ligado do outro, pronto.

- Bom dia, caros aluninhos! --- iniciei, de forma clássica --- E então? Qual o tema da aula final?

Nesse momento, com ar solene, o inesperado:

- Prof! Posso dar um recado para a turma?

Inocente, cedi o espaço, posicionando-me lateralmente, entendendo que o aluno assumiria uma posição mais central para a sua oratória. Entretanto, ele insistiu:

- Prof, poderia se sentar junto com os outros?

Com os meus botões: "Aí tem... pago prá ver!"

Embora um outro aluno tenha oferecido uma cadeira estrategicamente centralizada, procurei me resguardar. Sentei-me na frente, em uma região mais reservada. Em seguida, teve início o recado:

- Bem, aqui temos as classes 'Aluno' e 'Professor', posicionados na 'Sala de Aula', modelada como um container. --- Um desenho UML surge na louça branca, revelando que houve algum entendimento da matéria lecionada ao longo do semestre. Um detalhe a mais foi colocado no diagrama UML.

- E aqui temos a classe 'Melancia'.

Nessa hora, na minha cabeça, ainda inocente em relação aos acontecimentos, de imediato detectou um erro de abstração. Em uma das aulas, mostrei 4 tipos de erros de modelagem: elemento omisso, excedente, estranho e alienígena. No caso da classe 'Melancia', parecia clara a situação de erro decorrente de um elemento alienígena.

- O que tem a ver a melancia com alunos, professor e sala de aula? --- continuou.

Aguardei que todos se manifestassem, gritando: "Nada! É um elemento alienígena!" Entretanto, surpresa. Silêncio. Fiquei preocupado. Será que não aprenderam? Silêncio. Silêncio total.

Aí, tudo mudou. Da porta lateral, surgiu um colega. Não de mãos vazias. Ao contrário.

- A melancia tem tudo a ver! --- afirmou categoricamente, enquanto o colega entrava no lab com uma melancia de 5kg, devidamente penteada com fitas de carnaval!



- Não, não! A melancia não é um elemento alienígena! Trata-se de um presente da nossa turma para o sr.

Confesso que me senti muito emocionado. Não somente pela melancia (que ainda não tive tempo de saborear), mas pelo cartão que me foi entregue logo em seguida. Em quatro partes:



Demorei para me recompor. Fantástico. São momentos mágicos que tornam a nossa vida algo indescritível. Agradeço aos alunos pela homenagem, desejando muita saúde e felicidades a todos! Avante, 2010!

domingo, 18 de outubro de 2009

Crônica: FIFO e FINO


 
Galeria: Marcus Ramos

Estava o mestre (mais uma vez empolgado) descrevendo o impressionante comportamento de uma estrutura de dados:

- Como sabemos, o protocolo básico de uma estrutura de dados é do tipo "põe-e-tira": põe um elemento na estrutura, tira um elemento da estrutura...

(Após alguns momentos de reflexão, os alunos mostram que entenderam o protocolo básico... na forma de um "Ahá!")

- No caso de uma pilha, este protocolo assume a forma de "push-pop", operações que implementam a regra LIFO: "Last In-First Out"!

Sem perder o oportuno momento de concentração dos alunos, o mestre prossegue:

- No caso de uma fila, o protocolo assume a forma de "enqueue-dequeue", operações que implementam a regra FIFO: "First In-First Out"!

Entretanto, precisamente neste ponto, um agoniado aluno solicita a palavra:

- Mas mestre, nem todas as filas seguem a regra FIFO!

- Não, caro aluno! Uma fila é caracterizada exatamente por este tipo de comportamento. Experimente "furar" a fila de uma agência bancária em um dia de pagamento!

- Pois é, retrucou o aluno. O sr. mesmo acabou de citar o exemplo de uma fila FINO.

Encucado e pensativo, o mestre ficou à mercê do aluno aguardando o desfecho, naturalmente "alunesco", da situação:

- Lá na agência onde faço estágio, a fila segue a regra FINO: FIRST IN-NEVER OUT!!!

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Crônica: Aluno e Criador


Galeria: Marcus Ramos


No final de uma importantíssima aula de Engenharia de Software sobre padrões básicos de modelagem com objetos, fala o prof:

- Um objeto assume o cargo de criador de outro objeto "x" quando:

(1) Ele contém "x".
(2) Ele agrega "x".
(3) Ele anota coisas em "x"
(4) Ele usa "x" intensivamente.
(5) Ele sabe os valores iniciais de "x".

Ainda empolgado pelo delicioso assunto, o prof, em um tom imponente, faz ressoar pela sala:

- Por exemplo, existindo as classes "Professor", "Curso" e "Aluno", qual delas seria, responsável por criar instâncias de "Aluno"?

Na cabeça do mestre pode-se detectar a pulsante resposta: "Curso". Na cabeça dos alunos é possível pressentir um retumbante: "Ainda não acabou?!"

Curioso com o silêncio absoluto da turma (indesculpável neste momento mágico da aula), o prof insiste, em altos brados:

- QUEM CRIA O ALUNO ???

Silêncio. Em seguida, uma suave brisa de revelação anônima. A tênue voz de um aluno surge do abismo intelectual:

- A MÃE.